Foto: Elenize Dezgeniski.
Foto: Elenize Dezgeniski.

Manifesto pela crítica

Reunidos em Curitiba, dos dias 8 a 13 de novembro de 2016, para o Idiomas – Fórum ibero-americano de crítica de teatro e para a Mostra DocumentaCena, nós, críticos, artistas e pesquisadores de teatro atuantes na Argentina, no Uruguai, em Portugal, na Espanha e no Brasil, com representantes das cidades de Belo Horizonte, Florianópolis, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Porto Alegre, decidimos pôr no papel, em poucas palavras, reflexões sobre a importância deste encontro e das ideias que nele circularam.

Antes de outra coisa, um encontro sobre crítica de teatro é um encontro sobre crítica. Sem deixar de lado ou em segundo plano nossas diferenças, nos reunimos a partir do interesse pela crítica e pelo olhar crítico que atravessa nossas criações artísticas, produções acadêmicas, escritos de artista, textos jornalísticos e, por que não dizer, também nossa existência fora do campo da arte e da escrita. Nos reunimos para alargar as fronteiras da ideia de crítica, redimensionando-a para muito além da erudição, do discurso de especialista, do lugar de autoridade, do capital cultural de classe e da esfera do acesso restrito.

Tendo a consciência de que todos nós, seja no norte ou no sul global, somos igualmente capazes de produzir pensamento, conhecimento e crítica, escrevemos para afirmar que o espírito crítico é inerente ao ser social, que jamais pode perder sua dimensão e seu valor, considerando, sobretudo, um contexto social de evidente desvalorização do pensamento crítico e negação da pluralidade de perspectivas que nos caracteriza.

Escrevemos para afirmar que esse espírito, presente em cada um de nós, não seja diminuído diante da ideia de um único crítico ou do crítico juiz, que policia, que impõe autoridade e autoritarismo e se consolida a partir de negociações entre nomes, instituições e poderes. Para afirmar que o espírito crítico não seja confundido com esta outra ideia de crítico. Para afirmar que somos, todos nós, sujeitos políticos, estéticos, éticos, artísticos e essencialmente críticos. A não ser que nos recusemos a tomar parte ativa da vida social, rendidos às formas de controle de uma sociedade normativa – sabendo que a abstenção nunca nos fará inocentes.

Escrevemos para fazer um elogio ao pensamento que se coloca entre o olhar de cada um e um mundo que clama por outras epistemologias, para fazer um elogio ao espírito crítico, e por isso, à atitude crítica, à potência crítica, criativa e transformadora presente em todos nós. Escrevemos para dizer que o espírito crítico é necessário, pois a reprodução de um discurso acrítico é o que tem nos levado à mera manutenção de um status quo evidentemente desconfortável e desequilibrado. Escrevemos para afirmar que a defesa de um anticriticismo, ou então da desimportância da crítica, não pode se dar fora de um paradoxo.

Escrevemos em defesa e enaltecimento do óbvio: do sujeito crítico que todos nós somos.

Ou que podemos ser.

Antonio Duran, Bernardo Borkenztain, Daniel Guerra, Daniel Toledo, Daniele Avila Small, Edelcio Mostaço, Fábio Prikladnicki, Francisco Mallmann, Greice Barros, Ivana Moura, Jorge Dubatti, Jorge Louraço, Luciana Romagnolli, Marco Vasques, Marcos Alexandre, Marcia Moraes, María Esther Burgueño, Mariana Barcelos, Michele Rolim, Óscar Cornago, Patrick Pessoa, Paula de Renor, Pollyana Diniz, Renan Ji, Rui Pina Coelho, Soraya Belusi, Sueli Araujo, Welington Andrade, participantes do Idiomas – Fórum Ibero-Americano de Crítica de Teatro.

 

 

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